06/05/1981 – Revista Exame – As vantagens da empresa de capital aberto
Para o empresário Luiz Lacerda Biagi, vice-presidente da Zanini, a experiência já demonstrou que, apesar das inúmeras vantagens da democratização do capital, o imediatismo não dá bons frutos no mercado acionário. “Abrir o capital não deve ser um ato que sirva apenas para captar recursos mais baratos no mercado”, afirma o empresário.
Biagi argumenta que as empresas só devem pensar em abrir o capital se estiverem atravessando uma boa fase e só possuírem perspectivas reais de crescimento. Em sua opinião, isso é importante para conferir a credibilidade à empresa ̶ e não apenas na ocasião do lançamento. “Seu bom desempenho no primeiro ano de pregão na Bolsa servirá como referência em todos o período em que suas ações estiverem na mão do público”, diz Biagi.
Assim, um lançamento apressado, simples lance de oportunismo para enfrentar a conjuntura, tenderá a ser contraproducente no longo prazo. Além do mais, é pouco possível que haja boa receptividade para as ações de uma empresa não suficientemente preparada para a abertura do capital, pois o mercado acionário não atravessa seus melhores dias. Atualmente, os investidores estão notoriamente mais atraídos pelos papéis de renda fica, principalmente a caderneta de poupança, ultraincentivada pelo governo. Além disso, a combinação de dois fatores preocupantes ̶ a inflação altíssima e a desaceleração da economia ̶ levou os investidores a colocarem seus recursos em refúgios mais seguros do que as Bolsas de Valores.
Luiz Biagi, da Zanini, “abrir o capital é muito importante para a preservação do próprio espírito da empresa”, pois exige mudanças em sua estrutura e em seu funcionamento. Em primeiro lugar, a abertura do capital permite ̶ e, em muitos casos, exige ̶ um processo ̶ de maior profissionalização dos dirigentes da empresa. “pode não parecer importante”, diz Luiz Biagi, “mas a democratização do capital da empresa a protege da família proprietária, que nem sempre possuem os melhores administradores.” Pela necessidade de apresentar bons resultados, a empresa aberta obriga-se a contratar bons executivos. Em consequência, esses profissionais acabam sendo indispensáveis pelos bons resultados que proporcionam. Nos momentos de crise ou quando há problemas com os controladores do capital a empresa tende a sofrer menos, já que possui uma massa critica que garante sua continuidade.
É que a abertura de capital permite à empresa expandir suas atividades além da capacidade financeira dos sócios das empresas de capital fechado. Uma vez democratizado o capital, a empresa reduz sua flexibilidade, obriga-se a ter as contas corretas e a submeter-se às auditorias, mas conquista também uma série de vantagens menores. Por exemplo, surgem maiores facilidades para obter recursos oficiais e privados, sem contar que a compra de ações por funcionários aumenta o desempenho e a solidariedade interna, tudo isso, segundo Biagi, compensa largamente as desvantagens da abertura do capital. A maior delas, sem dúvida, são as despesas forçadas pela necessidade de publicar editais e balanços e, especialmente, de manter uma auditoria externa razoavelmente cara.